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Meu Jogo Inesquecível: o dia em que Goyta de Tonico Pereira virou Seleção

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

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Mendonça de ‘A grande família’ presta reverência a Didi, que passou pelo clube de Campos no começo da carreira, e relembra final da Copa de 1958

Por Cahê MotaRio de Janeiro
Até onde vai a imaginação de uma criança? A resposta, que já tende ao infinito se levado em conta o mundo encantado de uma mente infantil, voa ainda mais longe quando toda criatividade é somada à paixão pelo futebol. E foi exatamente isso que aconteceu com o ator Tonico Pereira em meados de 1958, quando viveu seu momento inesquecível no futebol. Do radinho de pilha da sala de sua casa em Campos, interior do Rio de Janeiro, o Mendonça do seriado “A grande família”, da Rede Globo, se preparou, torceu e comemorou muito o título mundial conquistado pelo seu Goytacaz em Estocolmo, na Suécia. Pelo menos esse é o fruto de sua imaginação
A história é confusa, sim, mas o ator garante ter nexo. Apaixonado pelo Alvianil da Rua do Gás, como é chamado o time de Campos, Tonico Pereira aponta como o momento mais marcante de sua relação com o futebol a vitória por 5 a 2 da Seleção Brasileira sobre a Suécia, na final da Copa do Mundo de 58. A recordação, no entanto, não vem pela conquista nacional. Para ele, o mais importante foi saber que seu conterrâneo Valdir Pereira, o Didi, que defendeu o Goytacaz no início da carreira, fazia parte da lista dos primeiros brasileiros campeões mundiais. Mais do que isso, no papel de protagonista. Sobre a relação entre o clube de Campos, a equipe nacional e a tarde de 29 de junho daquele ano, o próprio ator fez questão de explicar em longo relato.
tonico pereira goytacaz meu jogo inesquecível (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)Tonico Pereira tinha 10 anos quando Brasil ganhou Copa de 1958 (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)
- Não vou mentir. Os jogos do Goytacaz contra o Americano sempre foram muito marcantes para mim, sendo que a nossa vantagem nesses encontros foi quase de 80%. Mas o Goytacaz revelou um jogador para o mundo, que chamava-se Didi “Folha Seca”. Ele me proporcionou o jogo mais marcante da vida, e não foi com a camisa do Goytacaz. Foi na final da Copa do Mundo de 58. Eu ouvia pelo rádio, com 10 anos, e me lembro que o Brasil sofreu o primeiro gol. Era uma tensão, todo mundo em volta do rádio, toda aquela precariedade da época. A Suécia abriu o placar e o Brasil, estigmatizado até por problemas raciais, era um time de vira-latas, como dizia Nelson Rodrigues.
Tonico Pereira lembra o gesto do inventor da folha seca - como era conhecido o chute mortal de Didi, que mudava com efeito o curso da bola - fundamental para a virada brasileira 
 -  Bateu novamente o complexo de vira-latas: “Poxa,os louros vão ganhar mais uma vez dos miscigenados brasileiros.” Mas isso não aconteceu.Tenho certeza, pelo verdadeiro ato de independência do Brasil, que não foi em 7 de setembro. Didi pegou a bola no fundo da rede e seguiu andando como o Príncipe Etíope rumo ao meio-campo. Enquanto Zagallo e outros pediam pressa, ele disse para o time se acalmar porque ia ganhar. Isso já tinha acontecido com ele em uma excursão na Europa pelo Botafogo meses antes. E o Brasil reagiu brilhantemente. Esse jogo eu não vi, eu ouvi, mas foi muito marcante e protagonizado por um gênio que passou pelo meu Goytacaz.
Cheio de personalidade, Tonico Pereira não só apontou Didi como o responsável pela independência do Brasil como pediu licença para discordar de uma teoria levantada por um dos maiores cronistas esportivos da história do Brasil: Nelson Rodrigues. E também fez questão de expor seus argumentos.
- Já escrevi um texto discordando do Nelson Rodrigues, que aponta esse jogo como o fim do complexo de vira-lata. Eu disse que não. Para mim, nesse momento o brasileiro se afirmou como vira-lata. Por quê? O vira-lata é muito melhor que qualquer pastor alemão feito em laboratório. Ele tem uma falta de raça que vem de uma miscigenação que temos em nosso sangue e muito me orgulha. O vira-lata é o melhor cachorro do mundo.
Goytacaz e Seleção: unidos por Didi e pelo azul
Morando no Rio de Janeiro há mais de 40 anos, Tonico Pereira garantiu nunca ter cedido seu coração a nenhum grande carioca. Nostálgico, o ator recordou o início de sua relação com o Alvianil, ainda na infância, e lembrou os momentos que antecederam a partida em que, para ele, o Goyta ganhou o mundo.
Didi sorrindo em 1958 (Foto: AFP)Ídolo de Tonico Pereira, Didi, o Príncipe Etíope,  foi
decisivo em 1958 para Seleção Brasileira (Foto: AFP)
 - O Goytacaz era muito presente na minha vida. Eu jogava pelada quase diariamente no clube. Tenho uma ligação forte. O antigo presidente Jacinto Simões salvou minha vida no parto. É uma paixão que vem desde o umbigo. Todo campista e torcedor alvianil viveu uma grande expectativa naquele dia. Era a possibilidade de um campista ser campeão do mundo. Mas não foi só isso. Foi protagonista e modificador cultural de um povo.
Por mais inusitada que a história possa parecer, o Mendonça de “A grande família” abre o leque de argumentos para “comprová-la”. A seu favor, o ator conta até mesmo com uma coincidência que impediu a Seleção Brasileira de jogar com a tradicional camisa amarela por se tratar da mesma cor do uniforme dos suecos, que disputaram o Mundial em casa. A opção foi entrar em campo de azul, cor do manto de Nossa Senhora, e também... do Goytacaz.
- Para completar, a Seleção jogou com a camisa azul, que é a cor do Goytacaz. Essa é uma lembrança importante. O Goytacaz nunca esteve tão representado em uma Copa do Mundo.
E as teorias de Tonico Pereira não param por aí. Empolgado, o ator lembrou de outro jogador revelado pelo seu clube de coração com papel determinante na história dos cinco títulos mundiais da Seleção Brasileira e emendou:
- Ainda temos o Amarildo, que entrou de forma marcante em 62 e substituiu nada mais nada menos que Pelé. Podemos nos sentir bicampeões do mundo, evidentemente. Nenhum outro time de Campos teve esse diferencial, e nós tivemos.
Título com direito a vitória sobre o Barça empolga o ator
O título de “bicampeão do mundo” não é o único concedido por Tonico Pereira ao Goytacaz. Tendo como base a imensa superioridade do clube sobre o rival local, Americano, no número de torcedores, ele abraçou outra tese e garantiu:
tonico pereira goytacaz meu jogo inesquecível (Foto: Cahê Mota/Globoesporte.com)Tonico Pereira tem até camisa personalizada do
Goytacaz  (Foto: Cahê Mota/Ge)
- Somos também a quinta maior torcida do estado, perdendo apenas para os grandes. Ganhamos até do América! E independentemente de estarmos há tanto tempo fora dos grandes eventos, a torcida continua crescendo, mesmo na dor.
Torcida que tem no ator um membro fiel. Se a agenda de trabalho não permite que Tonico vá regularmente a Campos para os jogos no estádio Ary deOliveira e Souza, nome de seu tio-avô, ele aproveita as oportunidades em compromissos no Rio de Janeiro.
- Acompanho por jornal e, às vezes, quando joga no Rio vou ver. Passo pelos gramados do Bonsucesso, Olaria, e por aí vai. As pessoas até ficam olhando desconfiadas sem saberem se sou eu ou não.
Tamanho esforço este ano ao menos foi recompensado com o grito de campeão. Fora da elite do futebol do Rio de Janeiro desde 1992, o clube, que completa 100 anos em 2012, foi campeão em sua primeira participação na Terceira Divisão. Na campanha, duas vitórias sobre o Barcelona carioca. Feito exaltado com bom humor pelo ator:
- Somos o único time brasileiro que derrotou duas vezes o Barcelona e também o Juventus (outro clube carioca homônimo de um grande europeu). Somos só alegria!
Por fim, Tonico Pereira lembrou que o Mendonça, seu personagem em “A grande família”, também é torcedor alvianil e citou um outro caso onde conseguiu levar o seu amor da vida real para a ficção.
- O Goytacaz está muito presente em "A grande família". No meu cenário, há bandeira, escudo, fotos... O Mendonça se tornou alvianil. Fiz uma outra novela em que meu personagem era vascaíno, mas consegui incluir o Goyta. Cumpri meu papel como vascaíno e forjei certa vez um confronto entre Goytacaz e Vasco, onde comemorei muito após o fim do jogo. Todos perguntaram o resultado e eu disse: “Empate.”
E é assim, entre a vida real e seu fantástico mundo imaginário do futebol, que Tonico Pereira alimenta sua paixão pelo Goytacaz, único clube do Rio de Janeiro, para ele, “bicampeão mundial”.
SUÉCIA 2 X 5 BRASIL
Karl Svensson, Bergmark, Axbom; Börjesson; Gustavsson, Parling; Hamrin, Gren,Simonsson, Liedholm, Skoglund.Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha,Vavá, Pelé e Zagallo.
Técnico: George Raynor.Técnico: Vicente Feola.
Gols: Liedholm (SUE), aos 4, Vavá (BRA), aos 9 e aos 32 minutos do 1º tempo; no segundo tempo, Pelé (BRA), aos10, Zagallo (BRA), aos 23, Simonsson (SUE), aos 35,  e Pelé (BRA), aos 45 minutos.
Árbitro: Maurice Guigue (FRA), auxiliado por Albert Dusch (GER) e Juan Gardeazabal (ESP).
Local: Estádio Raasunda, Estocolmo (SUE). Data: 29/06/1958.Competição: Copa do Mundo de 1958. Público: 51,8 mil.

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